O Entrando na Dança 2014 – Criações Comunitárias traz este ano três espetáculos: um de charme, um de funk/passinho e um de Hip Hop, todos construídos através de uma perspectiva contemporânea de concepção. Após três meses de ensaio, em conjunto com os participantes, os coreógrafos deram forma as obras, que hoje já têm vida e nome próprio. Conheça um pouco mais sobre esses processos de criação:

 

Suave

Fenômeno do gênero musical Funk, o Passinho foi a inspiração para a criação de Suave, de Alice Ripoll, que trabalhou com dez dançarinos na Arena Carioca Dicró, na Penha. Estar “suave” é estar tranquilo, bem, “numa boa”. Das gírias ao palco, neste contexto, “suave” deixa de ser um adjetivo e passa a ser uma metáfora viva da convivência entre coreógrafa e participantes, algo que é do cotidiano e presente na vida de cada um.

Ritmo agitado, o Passinho carrega consigo uma energia vital do movimento, que domina o corpo desses jovens e apresenta traços bastante distintos da batida que o embala. Através dessa rica composição de movimentações, que mistura estilos como o frevo, kuduro e samba, Ripoll trabalha esses engenhosos passos de dança e cria, com protagonistas humorados e divertidos, uma singular narrativa.

 

Sob rodas

Sob Rodas, de Renato Cruz, fala das diferenças, dos pontos divergentes que se cruzam: o velho com o novo, o homem com a mulher, o nordestino, o sudestino, o nortista e o norte.

“A roda é um elemento de forte simbologia na cultura Hip Hop e presente em todos os eventos do gênero, mas foi durante a pesquisa das histórias de cada bailarino, de suas expectativas e angústias dentro e além do processo de criação, que intuitivamente fui fechando o quebra-cabeça… E que outras metáforas essa roda continha? Lembrei da “Roda Viva”, de Chico Buarque, e fomos transportando alguns significados… A roda no Hip Hop é lugar de ascensão, de construção de protagonismo… Mas existem outras rodas, metáforas das pressões que pairam sobre as cabeças de quem vive este universo. É sobre estas rodas e sob estas rodas que construímos o espetáculo”, pontua o coreógrafo.

 

Gueto (qual o ônibus que pego depois da rodoviária)

A coreógrafa Sonia Destri Lie teve como ponto de partida para o espetáculo, o Baile Charme de Madureira, que toma conta do Viaduto aos sábados no bairro. Junto com o grupo, que ensaiou na Arena Fernando Torres, vizinha ao local, reúne na obra o que pensam em dança e para onde querem ir com ela, nas periferias e subúrbios do Rio de Janeiro.

“A ideia veio quando falávamos de como eles se sentiam na vida e nas conquistas diárias. E o nome surgiu daí. Se sentiam como turma, coletivo, pares… A peça coreográfica é resultado de um trabalho coletivo. Totalmente urbanos e modernos, influenciados pelas danças sociais e pela ousadia da dança contemporânea, dialogando com os passos de Break, Passinho e Hip Hop. Eles se apropriaram do trabalho e da autoria do movimento.
 Que ideia pelo nome eles passam? Força, coragem e persistência…
 Tudo isso acontece com muito trabalho e seriedade profissional, mas temperado com alegria”, explica Sonia.

Foto: Sob Rodas © Cidinha Almeida