Oficina Uma mãe, dois pais, três avós, quatro irmãos, de Paloma Calle
Uma mãe, dois pais, três avós, quatro irmãos e todas as formações possíveis nesse jogo familiar proposto por cada participante, que era membro e representante de uma família. A troca imediata em um papel em branco possibilitou expor cada modelo de família conhecido, através de uma caneta preta e a fala livre baseada em fatos reias, trocamos histórias. Porque quando falamos de família estamos falando de histórias. Todas possíveis, trágicas e cômicas, algumas até que se tornam a mistura dos dois e elas, as histórias sobre nossas famílias e a dos outros, não parecem ter fim.
As histórias continuaram a ser contadas, de outra forma, em um aquecimento. Enquanto Paloma nos pedia informações sobre nós enquanto família, corríamos de um círculo a outro. Três eram esses círculos, um que continha a palavra não, outro com sim e outro com às vezes. O aquecimento veio como uma enxurrada de questões para aquecer mente e corpo com informações sobre o que viria a ser isso que chamamos de família, na prática, e como nos encaixávamos nesse contexto. Diferente contexto para todos, os pontos em comum existiam e eles nos faziam lembrar que todos nós fazíamos parte disso, de uma família, com moldes e combinações diversas demais para caber em uma folha de papel (que embora grande) não poderia comportar tanto. As tragédias e comicidades ainda se tornavam evidentes, nos fazendo rir de uma ocupação de um dos círculos seguida de uma justificativa atrapalhada ou nos fazia silenciar, perdidos em impressões particulares.
Paloma Calle, artista espanhola que trabalha há algum tempo em pesquisas autobiográficas, traz em sua oficina-performance um trabalho/pesquisa voltado para elas, as tão amadas, essenciais e complicadas famílias. A proposta da vez seria então se ver em um retrato, onde você se localiza nessa família, que lugar ocupa e como esses membros se relacionam. Paloma que durante mais de dez anos trabalha como intérprete para diferentes companhias de dança e teatro experimental, desde 2004 segue solo em suas pesquisas, cujo tema principal é ela mesma. O trabalho autobiográfico continua, mas dessa vez existe um time de pessoas, grande ou pequeno para auxiliar nessa busca. Um jogo interessante, divertido, sutil, um jogo de autodescobertas, através do que se vê no outro e do que o outro vê de nós, esse outro tão próximo, um jogo que Paloma se propõe embarcar e nos fazer embarcar.
E lá estavam todos, reunidos apenas aguardando os direcionamentos. Eram (quase sempre) simples as ações e durante um minuto, juntos, as executávamos. Correr, pular, trançar os cabelos, massagear, cantar, todos em caráter performático precisariam estar junto nesse cumprimento. E teve risada, filha emburrada e bronca de mãe, risadinha de irmãos, abraço em desconhecido, brincar de roda, sujar a mão de terra, rolar no chão, ajudinhas, briguinhas, aulas de como assobiar, canto coletivo animado e desafinado. O coletivo se mostrava forte. Uns com pernas menores e passos curtos, outros sem saber assobiar, outros impedidos de correr, outros com receio de abraços, tímidos, outros que dançavam destemidos, uns de cabelo branco, outros de colo, uns da Silva, da Castro, Oliveira, da Farias, membros de uma família harmoniosa e populosa ou não, de jeitos distintos, nos propomos a estar juntos.
por Thaina Farias
Foto: © CLAP