Um festival sobre o corpo, criado por artistas do corpo.

Um festival sobre o corpo, criado quando ainda não tinha nem Lei Rouanet.

Um festival sobre o corpo que nunca aceitou que o corpo não podia isso.

Que não podia aquilo. Um festival que começou sem saber que seria um festival.

Um festival sobre o corpo que nasceu num ano de impeachment e desde então já viu outro. Respira.

Um festival sobre o corpo e as artes do corpo, sobre os artistas do corpo e que usam o corpo para criar. Que são todos os artistas, na verdade.

Um festival que é chamado de cabeça muita vezes. Mas que segue preferindo ser cabeça do que ser sem cabeça. Que tem patrocinadores e parceiros fiéis que confiam e entendem a nossa cabeça. Mas nem sempre é fácil entender o Brasil e o Rio, e a nossa cabeça fica difícil de entender. Respira.

Um festival que acredita no encontro, na festa e na palavra. Mas só os encontros, as festas e as palavras que podem ser o que quiserem, quando quiserem, onde quiserem. Um festival que sempre quase não tem. Mas sempre tem. Respira. E tem de novo. Respira.

Um festival para quem não tem medo e não quer o mesmo. Feito por quem não tem medo nem faz mais do mesmo. Somos um corpo. Muitos corpos. E este ano, começamos na hora mais difícil.

Mas a gente já estava aqui antes e resiste. Respira.

Um festival que este ano convida a falar de amor, de respiração, de livros, de corpos diferentes, no Rio e no Brasil. Um festival que escolheu convidar outro festival, o Junta, mais jovem, que resiste e respira em Teresina, Piauí. Lá a chapa é mais quente que no Rio. Respira.

Um festival que abre quando uma parte do Brasil precisa se reinventar e redescobrir o outro. E só a coreografia e a dança nos fazem encostar no outro. Sentir o outro. Não é por acaso que neste momento em que começamos a 27ª existência-resistência do Panorama, a frase que nos conecta é um gesto coreográfico:

Ninguém solta a mão de ninguém. Respira.

Nayse López, curadora

(Imagem da instalação Por Um Fio, estreia no Festival Panorama 2018)

 

A festival on the body, created by artists of the body.

A festival about the body, created when Rouanet Law did not even exist.

A festival about the body that never accepted that the body could not do something.

A festival that started without knowing it would be a festival.

A festival about the body that was born in a year of impeachment and has since seen another. Breathe.

A festival about the body and the arts of the body, about the artists of the body and who use the body to create. That’s all the artists, actually.

A festival that is accused of being too brainy, many times. But that still prefers to be brainy than to be brainless. It has sponsors and faithful partners who trust and understand our minds. But it is not always easy to understand Brazil and Rio, and our mind sometimes can be difficult to understand. Breathe.

A festival that believes in the encounter, the party and the word. But only the encounters, parties and words that can be whatever they want, whenever they want, wherever they want to be. A festival that almost always did not happen. But it always happens. Breathe. And happens again. Breathe.

A festival for those who are not afraid and do not want the same known things. Made by those who are not afraid nor do more of the same things. We are a body. Many bodies. And this year we start at the most difficult of times. But we’ve been here before, and we resist. Breathe.

A festival that this year invites all of you to talk about love, breathing, books, different bodies, in Rio and Brazil. A festival that chose to invite another festival, Junta, a younger festival that resists and breathes in Teresina, Piauí. There the climate is even hotter than in Rio. Breathe.

A festival that opens when one part of Brazil needs to reinvent itself and rediscover the other. And only choreography and dance make us touch the other. Feel the other. It is not by chance that at this moment in which we begin the 27th existence-resistance of Panorama, the phrase that connects us all in Brazil is a choreographic gesture:

Nobody lets go of anyone’s hand. Breathe.

(Image from the instalation Por Um Fio, premiere at Festival Panorama 2018)