Biomashup, de Cristian Duarte em Cia.
Cadeiras organizadas com espaços consideráveis entre umas e outras, grupos de três, duas ou uma cadeira isolada pelo extenso espaço do Centro de Artes da Maré, lugar que também se prova extenso quando podemos constatar a amplitude que o som do instrumento russo Theremin tomou ali. O som experimental que era também corpo junto dos seis bailarinos se fez presente o tempo todo, durante os minutos que duraram Biomashup, os acordos sensoriais que originavam esse som, em um primeiro momento proveu de todos os corpos próximos, depois dos comandos do musico Tom Monteiro.
As paredes e as roupas eram brancas, os bailarinos, as pernas descobertas indicavam a liderança dos movimentos que estavam vir e não demorou muito para que começasse a movimentação dos seis bailarinos pelo espaço e a nossa, em torno da deles. A todo o momento os espaços entre as cadeiras eram cruzados por um corpo de onde provinham movimentos cautelosos, precisos, rápidos ou lentos, gradativos liderados por membros inferiores, as já mencionadas pernas desnudas, o tronco acompanhava, os dedos apontavam para baixo todo tempo bem como o olhar, que mais tarde, em algum momento, se elevou para que os rostos fossem vistos vestidos por uma máscara invisível de um estado que foi do nojo a raiva, cada um tinha sua máscara.
Cristian Duarte, bailarino que possui um extenso histórico de parcerias, propõe em Biomashup trabalhar mais uma vez junto, em Cia. O trabalho buscou nos bailarinos, também criadores, variadas formas de se fazer presente em cena, em movimento. E ele, o movimento, não cessa. As máscaras se moldam, intensificando as feições, a movimentação se torna intensa de igual modo. Os corpos inquietos não se relacionam, apensas se movimentam. O centro de artes da maré parecia mais longo quando observávamos todas as possibilidades de movimento que cabiam entre um extremo e outro do espaço. A luz que lembrava as fases do dia, junto do som produzido pelos acordos do músico, auxiliava na suspensão do tempo.
No meio desse passeio de corpos e olhares que o seguem, surge a maçã que despertou curiosidade, foi introduzida de forma a não chamar muita atenção. Era mordida enquanto segurada em uma das mãos e o rapaz emburrado ou a moça nervosa não deixaram de transparecer tais emoções ainda que contasse com esse elemento em cena. O objetivo era terminá-la enquanto os movimentos não cessavam, o suor aumentava e o tempo passava.
Dançando sozinhos e sem se relacionarem os bailarinos se mantiveram todo o tempo, durante um longo tempo separados, preenchendo a cada maneira o espaço, em seguida ocuparam espaços comprimidos, juntos, como cardume. A luz baixava sinalizando a hora dos braços despertarem. Empapados de gel, os braços de um por vez despertaram depois de mergulhados em um balde repleto de glitter. Iniciou-se um desfile de moda, onde as mãos e parte dos braços vestidos de glitter eram o destaque. Os corpos circulavam pelo espaço a passos determinados e as mãos se modelaram por uma luva de glitter azul. O chão foi tomado de brilho, a braços e pernas juntaram-se em uma dança até que em um movimento rápido cinco bailarinos tomaram conta do espaço onde estavam nossos pés na cadeira. Blackout. Cessaram-se. Cessamos. Porém ainda reverberava som e movimento em toda aquela amplitude.
por Thaina Farias
Foto: © CLAP